Primeiro de tudo quero deixar bem claro que tenho excelentes amigos portugueses, além do João, e não considero o que vi ou ouvi em termos de preconceito e xenofobia, quando morava em Portugal, como uma atitude generalizada. Segundo, o país é um dos mais belos que ja tive a oportunidade de conhecer, com estações bem definidas, uma rica cultura e a melhor comida do mundo, na minha opinião. Mas vamos lá...
Quando eu trabalhava na recepção de uma conhecida rede hoteleira presenciei os seguintes fatos:
- Clientes frequentes portugueses chegam e deparam-se com a nova "rececionista", brasileira (eu):
reação 1: "- Ah, a nova "rececionista" é brasileira? Mas como me vão contratar logo uma brasileira??
reação 2: "- Ah, es brasileira? Se eu quiser uma brasileira assim como tu, vou à beira da praia com uma nota de 50 euros na vara de pescar, e pesco a brasileira que eu quiser!
reação 3: "posso ser atendido por outra "rececionista"? Não quero ser atendido pela brasileira!"
- No intervalo do almoço, no restaurante, chega uma cliente histérica gritando: "- Mas não há condições de se ficar na praia, está CONTAMINADA de tantos brasileiros!"
- Na "receção", a "colega" corrigindo meu modo de falar o tempo inteiro: "- tens que parar de falar "brasileiro"e aprender a falar "português!"
- Quando chegavam clientes brasileiros, SIM, CLIENTES, a ordem era que tinham que pagar adiantado!
- Quando chegavam clientes negros, SIM, CLIENTES, a ordem era que tinham que pagar adiantado!
- Quando saíam os clientes franceses e espanhóis, as cobras, ops, "colegas" recitavam sempre: "-odeio espanhóis ou odeio franceses!"
- Em 2006, no último Mundial de futebol no Irish Café em Lisboa, jogo Brasil X França, logo após Portugal ser derrotado pelo nosso adversário, portugueses desesperadamente torcendo pela França e contra o Brasil. Ah é? Desconto no final...
- Nos serviços públicos, depois de pegar a senha, aguardar dezenas de pessoas à frente, na hora de ser atendida, quando abria a boca e falava "brasileiro", bastava para dificultarem TUDO. Sempre diziam que faltava algum documento, algum detalhe para não resolverem nada, frustrante!
- E para fechar com chave de ouro, quando o João mudou-se para Dublin, continuei em Portugal por mais três meses enquanto a quarentena do Yoshi acabava e terminava meu contrato de trabalho. Muitas vezes ia ao telefone público para ligar para Irlanda e um belo dia, o português que passava por mim, ouvindo meu sotaque ao telefone, começou a gritar histericamente (como sempre): " - Brasileira, sua "pega"(quer dizer p-u-t-a) vai-te embora para tua terra, tu não pertences aqui, não queremos brasileiros aqui, vai-te embora "pega"... e ficou lá por um momento gritando feito louco...
Fui informar-me sobre como faria denúncia e disseram-me que teria que pagar 100 euros para dar queixa. Sem contar que depois uma notícia de que uma brasileira foi torturada pela polícia portuguesa para desmentir algo do tipo, me fez desistir da queixa.
Acho que essas atitudes xenófobas começaram muito antes... Lembro que quando fui à Portugal com minha família, tinha aproximadamente 12 anos, antecipamos as passagens para França para irmos logo embora de lá devido a alguns acontecimentos nesse sentido. E éramos TURISTAS!
Tenho muitas outras experiências do tipo, mas lembrar essas coisas me dá um gosto amargo na boca, uma inexplicável sensação de humilhação com essas atitudes sem sentido... Cheguei ao ponto de me tremer e baixar a cabeça com medo e receio do que iria ouvir antes de abrir a boca, quando precisava tratar de algo com um português. Apesar de tudo, por ironia da vida, estou à espera da minha cidadania portuguesa, por direito adquirido através do João, pois ter o "passaporte vermelho irá facilitar a minha vida na Comunidade Européia. Mas vou ser sincera no jogo de hoje: Fooooooorça Espanhaaaaaaa!!!!!!!